sábado, maio 10, 2008

Kennedy Santos

O repórter cinematográfico Kennedy Santos enviou um belo texto sobre um material que já não está mais em uso, mas faz com que os cinegrafistas se lembrem de um equipamento que deu muitas alegrias até o início da década de 1999.
Segue o texto:


Pó de vídeo

Mostrava os ambientes fielmente, destacando cores e nitidez.
Ao mesmo tempo em que parecia sensível tornava-se insensível.
Era forte, não desbotava com o sol, apenas o suor lhe tirava a cor.
Um som de alerta era disparado toda vez que lhe batia o cansaço, junto, uma luz vermelha piscava lentamente alertando quem a manuseava, hora de parar.
Caindo a chuva exigia-se proteção especial, como fazem ainda hoje.
Sua função principal era retratar o cotidiano, não tinha preconceito e agia sempre em silêncio.
Algumas trabalhavam horas sem parar, outras, no entanto, agüentavam menos.
Em um de seus muitos acessórios era possível botar tudo a perder. Quando nova, deixava todos com água na boca. Sim, porque além de tudo existia uma competitividade entre suas concorrentes para saber quem era a melhor, cada uma queria ser mais poderosa que a outra.
Olhando por uma de suas frestas era possível ver o mundo. Era ousada, descrevia situações que nem as palavras fariam com tanta perfeição. Proporcionava alegria, tristeza e momentos inesquecíveis. Durante anos foi assim. Tinha apenas um olho e mesmo assim enxergava divinamente, detalhava o belo espetacularmente, seu campo de visão era amplo, mas como nem tudo é perfeito, perdia o foco com muita facilidade.
Era companheira amiga, aliás, foram muitas as vezes que deitou em meus ombros.
Uma vez fomos passear, ver o sol se pondo. Fez centenas de fotografias e me surpreendeu com os detalhes. Retratou o momento com cores nunca antes vista por mim. Fez o sol ficar avermelhado e contornos amarelados.
O tempo foi passando, agora é uma respeitada senhora, não é muito conhecida, mas quem teve a oportunidade de conviver com ela sente saudades.
A princípio, sentindo-se triste saiu das “grandes” cidades, morou em lugares pouco conhecidos. Aposentou-se, mas em alguns lugares ainda é possível vê-la em pleno vigor.
A última notícia que tive, foi de que estava morando num museu, imagine só, num museu. Vive das histórias que ajudou a construir. Viva às U-matiques!


Kennedy Santos.

Nenhum comentário: